sábado, 25 de maio de 2013

OS ENCANTOS DE MOCINHA



Bem que tento me lembrar dela como um todo, mas nos dias atuais, depois de mais de  cinqüenta anos, essa  é tarefa difícil. O jeito é  me satisfazer com alguns pedaços de memória que ainda  perpassam pela cabeça por onde circularam  tantos vultos de mulheres, umas lindas outras não tanto, mas  todas mulheres – essas magníficas representantes do que existe de melhor na raça humana.

Pensei em pedir ajuda a amigos mais velhos contemporâneos de Jaguaribe, porém, desisti porque certamente eles – bem mais afeitos à figura de Mocinha – iriam influenciar a crônica que espero, na simplicidade das palavras, possa efetivamente representar minha homenagem àquela figura de fêmea que enlevou os sonhos de muitos e que, ao que soube depois, saciou a sede  de poucos.
A beleza de Mocinha era típica daqueles tempos, com uma diferença que a fazia mais admirada: enquanto as moças ditas de família se vestiam bem e se arrumavam a seu modo, com banho de sabonete Eucalol e pitadas de perfume Coty ou Royal Briar, Mocinha não tinha direito a essas coisas. Ela se vestia de forma humilde e despojada o que me leva a crer, na mente confusa que ostento, que ela sequer era da família da casa vizinha à nossa. Estava mais para menina adotada ou alguém trazido do interior para morar com tios mais abastados.

Em verdade, Mocinha era uma fêmea de corpo inteiro e suas partes estavam bem dispostas nos seus devidos lugares. Cabelos longos e pretos caíam de vez em quando sobre o rosto  belo e anguloso, bem  enfeitado por uma boca carnuda e olhos castanhos, aparentando uma candidez que ela nunca teve. Ao contrário,  quem disse ter estado com ela em contatos mais íntimos, garantia  que ela era fogosa e meio difícil de saciar. Mas essas afirmações nunca foram confirmadas, primeiro porque Mocinha era inabordável e também porque na hora de provar os palradores corriam às léguas.

O seu corpo, para os padrões da época,  era perfeito. Isso é o que eu pensava nas raras vezes (o que sempre lamentei) em que, do alto de uma providencial mangueira,  a vi se ensaboando debaixo do chuveiro de cobre  que pendia de um tonel de água fria,  no banheiro improvisado do quintal de sua casa. Posso dizer que ainda hoje guardo a recordação daqueles seios pequenos e arredondados e das pernas torneadas que apareciam antes das coxas grossas e rijas, de onde se vislumbrava algumas penugens de um erotismo sem par.

Das outras partes, chamadas pudicas, reservo-me o direito de sobre elas não discorrer, pois este espaço embora livre, não permite que devaneios de outra ordem sejam criados ou alimentados, senão aqueles que já povoaram os sonhos da minha adolescência, em que Mocinha apareceu, sempre causando  o maior estrago nos meus lençóis.
Não sei se Mocinha ainda habita este mundo e o que foi feito dela quando a minha vida se despregou de Jaguaribe. Não sei se chegou a se casar,   se descasou, se teve filhos e se tem netos – pouco importa. O que vale mesmo é  que num desses últimos fins-de-semana, como por encanto, Mocinha reapareceu para mim.

E, eu que não sou tão egoísta, resolvo dividir com os homens do meu tempo, o prazer de desfrutar dos atributos de Mocinha, sem dúvida, uma encantadora mulher do século passado, daquelas que já não se fazem como antigamente.


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