Getúlio Dornelles Vargas - * 19/04/1882 - 24/08/1954 +
- "O
povo de quem fui escravo não será mais escravo de
ninguém"
- "Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história."
A carta que Getúlio Vargas deixou ao se suicidar
Existem duas versões da carta de Getúlio Vargas: uma manuscrita, bastante concisa, e outra mais longa, datilografada, que foi distribuída para a imprensa como a mensagem oficial do político ao povo brasileiro.
A versão datilografada é atribuída ao jornalista José Soares Maciel Filho. De fato, Maciel Filho confirmou à família do presidente que datilografou a versão lida para a imprensa, mas nada disse sobre tê-la modificado.
VERSÃO MANUSCRITA:
“Deixo à sanha dos meus inimigos, o
legado da minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer, por este bom e
generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem
que pretendia. A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas
pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida,
sistemática e escandalosa. Acrescente-se a fraqueza de amigos que não defenderam
nas posições que ocupavam à felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei
com honras e mercês, à insensibilidade moral de sicários que entreguei à
Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do
país contra a minha pessoa. Se a simples renúncia ao posto a que fui levado
pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranqüilo no chão da
pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para,
com mais fúria, perseguirem-me e humilharem-me. Querem destruir-me a qualquer
preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho
e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não dos crimes que não cometi,
mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios
interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos
humildes. Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue dum
inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus. Agradeço aos que de perto ou de
longe me trouxeram o conforto de sua amizade. A resposta do povo virá mais
tarde…”
CARTA
DATILOGRAFADA:
“Mais uma vez as
forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre
mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito
de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não
continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo
o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos
grupos econômicos e financeiros internacionais, fi z-me chefe de uma revolução
e venci.
Iniciei
o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de
renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo.
A
campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais
revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros
extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário
mínimo se desencadearam os ódios.
Quis
criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da
Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A
Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja
independente.
Assumi
o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho.
Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações
de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100
milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal
produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão
sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho
lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante,
incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim
mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso
dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém,
querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha
vida.
Escolho
este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma
sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso
peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.
Quando
vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.
Meu
sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada
gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a
vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que
pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje
me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais
será escravo de ninguém.
Meu
sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu
resgate.
Lutei
contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado
de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos
dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o
primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na
história.”
As
duas cartas (manuscritas e datilografada) estão no CPDOC da Fundação Getílio
Vargas.
BIOGRAFIA
“Foi presidente do Brasil em dois períodos. O primeiro de 15
anos ininterruptos, de 1930 até 1945, e que dividiu-se em 3 fases: de 1930 a
1934, como chefe do "Governo Provisório"; de 1934 até 1937 como
presidente da república do Governo
Constitucional, tendo sido eleito presidente da república pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934; e de 1937 a 1945, como presidente-ditador, enquanto durou o Estado Novo, implantado após um golpe de estado.
No
segundo período, em que foi eleito por voto
direto, Getúlio governou o Brasil como presidente da república, por 3 anos e
meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando suicidou-se.
Getúlio
era chamado pelos seus simpatizantes de "o pai dos pobres", frase
bíblica (livro de Jó-29:16) e
título criado pelo seu Departamento
de Imprensa e Propaganda, o DIP, enfatizando o fato de Getúlio ter criado
muitas das leis sociais e trabalhistas brasileiras.
A sua doutrina e seu estilo político foram
denominados de "getulismo" ou "varguismo". Os seus
seguidores, até hoje existentes, são denominados "getulistas". As
pessoas próximas o tratavam por "Doutor Getúlio", e as pessoas do povo
o chamavam de "O Getúlio", e não de "Vargas".
Cometeu
suicídio no ano de 1954, com um tiro no coração,
em seu quarto, no Palácio do
Catete, na cidade do Rio de
Janeiro, então capital federal. Getúlio Vargas foi considerado o mais
importante presidente da história
do Brasil. Sua influência se estende até hoje. A sua herança política é
invocada por pelo menos dois partidos
políticos atuais: o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Getúlio
Vargas foi inscrito no Livro dos
Heróis da Pátria, em 15 de setembro de 2010, pela lei nº 12.326.”
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