terça-feira, 21 de abril de 2015

MANUELZÃO - VEREDAS E SERTÕES



Depois que publicou “Sagarana”, João Guimarães Rosa foi vistar um primo que tinha terras perto do Rio São Francisco. Foi nessa viagem, em 1952, que o escritor conheceu o vaqueiro Manoel Nardy, capataz e cozinheiro das tropas de boiadeiros. Rosa percorria o interior de Minas Gerais para colher histórias e referências para livros futuros. Não abriu mão da companhia daquele magrelinho astuto que trabalhava na fazenda do primo. Ao longo das jornadas a cavalo, o boa-praça Manoel revelou-se mais que um guia de caravanas. Transformou no sábio personagem Manoelzão de “Grande Sertão, Veredas” e “Corpo de Baile”.
Como foi – 1991. Manoelzão morava em Andrequicé, a 200 quilômetros de Belo Horizonte. Fui até lá fotografá-lo, pouco antes de sua morte, aos 93 anos. Personagem como este não poderia deixar de figurar em meu livro “Senhoras e Senhores”, que fiz porque ganhei uma bolsa da Fundação Vitae, de São Paulo. Por ter a fama de ser inspirador e personagem literário dos mais importantes livros de Guimarães Rosa, esperava encontrar um sujeito cheio de empáfia e soberba.
Que nada! Era exatamente o contrário. Poucas vezes vi exemplo de singeleza e simplicidade. Típico mineiro. Retraído. Fala mansa e sobretudo comedido. Franzino, botinas de couro cru, chapéu de palha, caminhava com o auxílio de um cajado de madeira. As longas barbas brancas e o temperamento sereno, faziam lembrar a figura de um eremita.
Quando perguntei-lhe sobre estar chegando aos 90, ele respondeu-me com a sabedoria que adquiriu ao longo de sua vida no interior:
- Gente nova tem força. Gente velha tem jeito.
Orlando Brito

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