Domingo chuvoso é dia pra lembrar do que foi bom e não volta mais. Da
gema, nascido na Cândida Vargas e criado no aceiro da mata de Buraquinho, sem
medo de nada e estancando o sangue do chamboque do dedo com areia, assim foi
minha infância no bairro de Jaguaribe. Onde hoje é o mercado da feira de
quarta-feira, havia um campo de peladas que recebia desde jogos do Canto da
Vila, que era um time da Vila do Motorista, treinos do Auto Esporte e
Botafogo até alguns circos. Lembro-me do Real Madrid e do Gran Bartolo. Como
naquela época a diversão era com carros feitos de lata de leite Ninho e
manteiga Turvo, quando aparecia uma coisa diferente a gente achava ótimo
demais, como diz Tião. Quem tinha gato escondia, porque o bichano era o rega
bofe preferido dos leões e cada um valia dois ingressos. A segurança dos
trapezistas se resumia a uma rede e o sinal da Cruz. Passavam talco nas mãos e
davam cada pinote de quase saírem pelos buracos das lonas. Além dos palhaços, o
que mais me agradava era o Globo da Morte. Geralmente os motoqueiros pertenciam a uma família só. Tinha que ter muita sintonia e confiança. Lembro no Real Madrid
do Mário, Marinho e Djalma. Pai, filho e sobrinho.
O Trailer era uma atração à parte. Aquelas casas cheias de novidades
tinha até máquina de lavar. Pra gente, aquilo era algo do outro mundo e só
conhecíamos por conta da propaganda da Tv Tupi, que passava através de uma
repetidora do sinal que vinha do Recife.
Na pior hora, quando o mastro
era derrubado, a lona recolhida e as cordas dobradas chega fazia um nó na
garganta. Dava vontade de ir junto. O ruim era no dia seguinte, que além da
saudade ficavam os buracos no chão. Uma tristeza, mas nada que uma pelada não
resolvesse.
Tempo bom.
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