
No outro lado da rua, Berta era quem ditava moda na sua casa, reunindo a nata da intelectualidade pessoense para ouvir Pablo Neruda, Vinícius de Morais ou Manoel Bandeira. Era a prostituta intelectual e, na sua pensão, até livro foi lançado. Subindo mais um pouco, encontrava-se a "Royal" e depois a "New York", duas das mais luxuosas casas, só perdendo em frequência para a casa de Hosana que era o coroamento desse périplo noturno que poderia ser feito entre às 10 horas, quando a festa começava, até às 2 horas da manhã, quando o guarda apitava e dava por encerrada a função. Quem restava na rua, procurava os bares de Zé Eustáquio ou de Carioca (misto de "araque" e barman), terminando no bar Tabajara, onde os pratos preferidos eram churrasco a carioca e coxão de porco. Todas as "madames" se orgulhavam das músicas apresentadas. Umas pelos conjuntos ao vivo, outras, pelas radiolas de fichas e eletrolas, onde Nelson Gonçalves era o cantor preferido. Na casa de Hosana, um trio formado por Reginaldo (piano), Dedé (saxofone) e Paulo (bateria), foi sucesso muito tempo. Depois Dedé se transferiu para o "Night and Day", ficando Régis em Hosana até morrer. O piano se confundia com Reginaldo e, depois de morto o artista, diziam que muitas vezes, o piano na calada da noite, tocava sozinho. Quem também brilhou com sua clarineta nos palcos do "Night" foi o então sargento Belmont, hoje coronel de Polícia, ex-vereador e ex-Secretário de Segurança do Estado. Comparecer à noite na Maciel Pinheiro era um atestado de masculinidade. Era o único canal competente para a rapaziada atender uma necessidade fisiológica natural. Por isso, ali compareciam ricos e pobres, comerciários e filhos de papai, aprendizes de mecânicos e universitários, funcionários públicos, políticos e potentados homens de negócios, cada um procurando o ambiente que se coadunasse mais com a sua categoria. A Maciel Pinheiro foi palco de muitos amores e muitas paixões, assim como, também, serviu de base para muita exploração, protagonizada, sempre, pelas "madames", proprietárias dos lupanares. Muitas delas, tanto roubavam nos preços aos fregueses como tiravam das inquilinas, através de expediente desonesto, os mais diversos. Hosana, era uma exceção, pois, apesar do luxo do seu estabelecimento, os preços, se eram altos, porém se tinha conhecimento deles com antecedência, assim como as suas pensionistas eram tratadas como seres humanos. Por isso mesmo era considerada como a matriarca da zona, chamando de filhas as suas "meninas" e os seus frequentadores "pupilos". Também haviam os fregueses que exploravam as mulheres e usufruíam de todo o calor que elas lhe proporcionavam. Eram os "gingolôs", ou os "heróis" da Hora dos Miseráveis, grande maioria constituída por estudantes que viviam de mesadas. Bebiam "caninha" até o apito do guarda, enquanto as amantes faziam salão e, a partir daquela hora, eles eram os "reis da noite". Naquele ritmo de festa, a noite ia passando, assim como passou a juventude daquele tempo e, igualmente, como da antiga Maciel Pinheiro, ficou só a história a retratar uma época romântica e, até certo ponto, inocente. Onde se exercia o comércio de carne humana, hoje se pratica o comércio de peças de automóveis; onde se ouvia gritos e sussurros, hoje se escuta o bater do martelo desamassando carros velhos. Da velha Maciel Pinheiro, ficou apenas a lembrança de um tempo em que exaltava: Hosana às mulheres nas alturas e paz na terra aos homens sedentos de amor.
Créditos ao Sr. Josélio Gondim
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