quinta-feira, 15 de março de 2012

Como era o Carnaval de Jaguaribe




Nos anos 40 e 50 do século passado, o Carnaval de Jaguaribe era o segundo melhor da cidade. Só perdia em animação para o Carnaval do Centro onde, na Praça 1817 e rua Visconde de Pelotas, acontecia o desfile dos blocos, troças e tribos indígenas e na Duque de Caxias reinava imponente o corso, feito por automóveis, camionetes e caminhões que rodavam cheios de gente fantasiada, num ir-e-vir que começava no sábado e só acabava na terça-feira à noite. Certa vez, consegui “amorcegar” uma carroceria de caminhão e me esbaldei em jogar lança-perfume nas meninas que se postavam nas calçadas da Avenida.


Depois das dez da noite, os foliões mais abastados iam para os bailes do Astréa ou Cabo Branco, enquanto a classe média se contentava com as matinês da AABB, dos Boêmios Brasileiros ou do Veteranos de Jaguaribe. Ainda acontecia um Carnaval no Rogers, mas deste eu tenho pouco conhecimento até porque Tambiá/Rogers ficava do outro lado da cidade e – como já disse e repetí – Jaguaribe era o meu mundo.


Lembro que todos aguardavam ansiosos, a tarde-noite de terça-feira, pois na Avenida Conceição, parece-me que por iniciativa de seu Manuel Pires (pai de Creusa Pires), todos os grandes clubes desfilavam obrigatoriamente.


Mas, antes de falar sobre esse desfile da Conceição, é preciso dar mais asas à imaginação e relembrar o não menos famoso “bloco dos homens vestidos de mulher” – hoje chamados de Virgens de Tambaú, Peruas do Valentina ou bloco urso-gay. Eram jovens de Jaguaribe que, na segunda-feira de manhã, faziam ponto na Vasco da Gama, ali no trecho entre a rua da Concórdia e a Minas Gerais, onde hoje há um posto de gasolina da Esso. Com um belo estandarte em que aparecia um homem de vasto bigode, vestido de mulher, os rapazes jaguaribenses botavam saia, muito justas, cabelos compridos às vezes com longas tranças e, o principal, armavam com duas quengas de côco, generosos e exuberantes sutiãs, blusas decotadas e meias que iam até às coxas, pintavam o rosto destacando um batom forte sobre os lábios – e estavam pronto(a)s para o desfile que percorria todo o quadrilátero principal do bairro: Vasco da Gama, Coelho Lisboa, rua João da Mata, rua das Trincheiras, rua da Palmeira, Aderbal Piragibe e aí voltando à Vasco da Gama onde havia a dispersão – centenas de pessoas, a maioria parentes do artistas, esperando o bloco dividindo a recepção entre aplausos e apupos.


O desfile da avenida Conceição começava às 4 da tarde com os chamados blocos menores. E a festa ia até às 10 da noite, a multidão se comprimindo para ver, de perto, as grandes atrações – os Piratas de Jaguaribe, a escola de samba Noel Rosa, a tribo indígena Africanos da Torre e, para fechar a festa, como o espetáculo maior - o mais aguardado e sobretudo o mais aplaudido, o famoso “Esquadrilha V”, que brilhava com o seu criativo carro alegórico, pioneiro do carnaval de João Pessoa - um avião com cabine, fuselagem, asas e tudo o mais, além dos pilotos trajados a caráter.


Quando o Esquadrilha V terminava de desfilar, a gente sabia que estava na hora de voltar pra casa. E que, naquele momento, tinha acabado mais um carnaval.

- Escrito por Carlos Pereira. 

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