Naquele tempo, a cidade
era o quintal da minha casa, ali na rua da Concórdia. E Jaguaribe era o meu
mundo.
No quintal eu brincava de
pega, de bola de meia, de pão-quente e até de anel. Porque havia espaço e
tempo para tudo. Até mesmo para subir nas mangueiras, separadas pelos irmãos,
outorgando-se a cada um a propriedade das mangas - colhidas com zelo para
não machucá-las. As que sobravam do lanche e da sobremesa, eram expostas em
vistosas bacias de alumínio (naquela época ainda não havia plástico), nos
balcões da venda de “Seu” Benedito – na esquina com a Vasco da Gama,
onde o velho pai dividia com outros o mercado de estivas e cereais do bairro.
Ah! Que tempos aqueles!. Hoje se resumem em memória e
saudades que aos poucos vão se apagando...
O cinema Jaguaribe, o medo de “Imbuzeiro” – um
velho feio e sujo que botava os meninos pra correr, o futebol pra quem tinha
comungado na missa das sete rezada por Frei Jorge na Igreja do Rosário onde
fui coroinha e até latim tive de decorar “dominus vosbicum – et
cum spiritu tuo”. A sinuca de Alcântara, na Vera Cruz, onde num domingo meu
irmão Zé Humberto, já rapaz, taco na mão, foi retirado do salão puxado
pela orelha, por “Seu” Benedito, o pai camarada mas disciplinador que não
queria “ver filho viciado em jogo”.
E a Festa do Rosário? Ah! A Festa do Rosário, a
melhor e mais completa festa de bairro da cidade. Todos os anos, no começo de
outubro, quando já não chovia no litoral, a gente – depois da aula no
Grupo Isabel Maria ou já no ginásio do Liceu – ia pra
casa, tomava banho, se perfumava com seiva de alfazema e rumava para o pavilhão
central, com a melhor roupa, o sorriso mais aberto e alguns
trocados no bolso para as primeiras doses de rum com coca-cola ou um copinho de
cerveja Bhrama Teutônia: muito para tomar coragem e pouco pra não se viciar.
Pegar coragem para mandar um bilhete à menina mais bonita do pavilhão, com quem
se trocava os primeiros olhares acumpliciados e, quem sabe, depois dividia os
primeiros amassos...
Jaguaribe da primeira namorada, do primeiro beijo, do
primeiro amor. Da menina normalista que me fazia ouvir o LP de 78 rotações de
Nelson Gonçalves cantando “vestida de azul e branco/trazendo um sorriso
franco/no rostinho encantador” – quem não se lembra, hein! Gonzaga,
hein! Martinho Moreira Franco?
Jaguaribe do Luzeirinho, onde o gordo Antônio servia o
melhor picado de porco da cidade, enchendo de gente as calçadas do seu bar na
Vasco da Gama às quartas e sábados – local em que mulher
“suspeita” não tinha vez. E o grau de suspeição, ele é quem definia e lembro
que até deputado foi convidado a se retirar do ambiente quando, certa vez, se
fazia acompanhar de uma dessas senhoras...
A! Jaguaribe da minha infância e da minha adolescência...
Texto do Dr Carlos Pereira: http://www.carlospereira.net.br/
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