sábado, 14 de setembro de 2013

JAGUARIBE: O QUE ME MATA É MINHA MEMÓRIA



O nome da rua da frente do Mercado de Jaguaribe é Generino Maciel. A de trás, onde morei, em forma de arco, se chama Major Jader de Carvalho Nunes. No lugar onde foi construído o Mercado Público já serviu para algumas situações que tenho na lembrança. Eram intermináveis disputas de futebol, peladas mesmo, mas o campo tinha dimensão generosa para as pretensões dos peladeiros de fim de semana. O Auto Esporte sempre treinava por lá. Uma vez o Jesuíno (morava na rua Dr. Antonio Massa, próximo a Serraria de Mário Camelo) caiu na besteira de criticar uma jogada horrível de um jogador do clube do povo, o autinho do amor, e foi ai que levou uma carreira do atleta que ainda hoje o cabelo é espalhado na testa. 

O local também foi palco para estada de dois circos. Um foi o Gran Bartolo´s Circo e o segundo se chamava Real Madrid. Em um dos dois teve o caso que o tratador foi morto por um elefante que o desferiu fatal golpe, jogando o corpo sobre a lona. Quem tinha animal de pequeno porte vivia um Deus nos acuda. Havia uma lenda que se levasse um gato ou cachorro para servir de almoço dos leões não pagava ingresso. Não se via um gato no meio da rua. Ou os donos amarravam ou se transformavam em ingresso para boas gargalhadas. 

Quando na inauguração da iluminação, lembro como se fosse hoje, eu estava na porta de casa, nº 174, jogando bola de gude com o Ido (Joildo Guedes de Lima), amizade que conservo até hoje, que tinha como pai o Sr. Júlio Ferreira. Seu Júlio foi o pioneiro dos jogos de voleibol no bairro.  Foi um clarão de causar espanto. Só tínhamos a iluminação do terraço de casa e as lâmpadas dos distantes postes. Era um breu danado, mas foi que repentinamente se fez a luz. 

Por conta da organização que existia na administração do mercado era proibido deixar os bancos no pátio, após o termino da feira. O feirante que tinha amigos por ali tratava logo de agradar o dono da casa para não ter que contratar um frete para outro bairro. Lá em casa, por exemplo, era a dona Raimunda do picado que deixava o seu banco. Nem preciso dizer que provei de tudo um pouco do que fazia nas suas panelas mágicas. Quem não tinha espaço ou amizade contratava o Seu Biu. Homem trabalhador e pai de uma penca de meninos. Ele levava as bancadas para debaixo dos fios de energia de Paulo Afonso, bem no aceiro da mata. . Fez uma casa lá e, pouco a pouco, ganhou muitos vizinhos. Chegou um, outro, e tantos mais. Dai então surgiu à favela Paulo Afonso. Começava atrás de onde até hoje funciona a Suplan e terminava na Ladeira do Varjão, bem pertinho da casa de Dona Zaíra. Hoje a favela não existe mais e seus antigos moradores foram transferidos para um condomínio que fica na mesma ladeira onde terminava. 

Contemplando esse quase meio século que estou por aqui, posso ver que os novos tempos nos trouxeram inovações magníficas; a tecnologia é uma delas. Quem tinha minha idade em idos da década de 1950 recebia por ano o mesmo volume de informação que recebemos hoje em apenas um dia. Não há um tremor de terra no Japão que não saibamos em 10 segundos. A medicina avançou bastante, apesar de não ser acessível a todos. Tristeza mesmo é enxergar o mar de cerca elétrica nos muros. Esse mundo de fios para proteger o homem do homem me causa espanto. 

Fui menino em Jaguaribe e me alegro recordando. Como dizia e inesquecível Luiz Otávio; "o que me mata é minha memória"

3 comentários:

  1. Que texto muito lindo, sua memória é maravilhosa uma verdadeira viagem no tempo parabéns !

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  2. Eita ! Jaguaribe da vila dos motorista o saudoso campo de pelada das ruas descalças, da Escola Rotary, da barraquinha do pai de coca cola que vendia cocada e banana anã. Ficava ao lado da vacaria. Sertanejo o empregado da serraria do Sr. Mario e que também tomava conta dos gados. também tive minha infância ali. Eu morava uma rua antes da Generino Maciel cortada pela Assis Vidal. Dep. Luiz Clementino 131. Sr. Mario esse seu relato me trouxeram boas lembranças. Saudade o meu remédio e cantar.

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  3. Mário, essa rua em forma de ferradura, onde abrigava a feira salvo engano das quartas, traz avivamento feliz em minha memória, tivemos infância...dos carrinhos de rolimã das guerras de tomates, dos encontros na Igreja, do cachorro quente do mundial...das festas animadas pelo jogo de luz do Cesar, tempos bons que só existiu em Jaguaribe...

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