Li alguma coisa no jornal sobre a festa do Rosário e
fui conferir. Preparei-me para fortes emoções ao passar o sinal da Vasco
da Gama com a Primeiro de Maio, ali em frente à Casa da Cidadania, onde no
passado funcionou o Cine-Teatro Santo Antônio. Parei diante do portão principal
do muro que circunda a Igreja do Rosário, tive vontade de entrar mas freei no
meu ímpeto – afinal, a última vez que estive naquele templo, eu
absolutamente anônimo e a Igreja absolutamente vazia, senti uma enorme nostalgia,
quase tristeza por assim dizer.
Ao seguir em frente, demandando o antigo pátio da
feira de quarta-feira, estendi a vista para ver melhor o pavilhão central, as
barracas de cachorro-quente e as tendas das quermesses que, ao lado do
carrossel e da roda-gigante, fizeram a alegria da minha infância nos primeiros
dias de cada outubro daquele tempo.
Mas, o quê? Nem sombra de qualquer barraca, nem o mais
leve sinal do gordo careca que servia o melhor cachorro-quente da Noite
Ilustrada – acho que era este o nome de sua barraca. Olhei pra cima
mas não consegui avistar a roda-gigante, aquela em que eu, lá do alto,
morrendo de medo, via a Lagoa por inteiro e até um pedaço de Tambaú...
Resolvi continuar minha caminhada em direção ao quase nada.
Pois, a par dos modernosos prédios que fazem o Centro Administrativo, só
enxerguei uma barraca estilizada no meio do antigo pátio da feira, onde
funcionários desocupados tomavam cachaça e falavam mal do Governo.
Que foi feito da Festa do Rosário? Por onde andam as moças
da sociedade do bairro que enfeitavam as noites da festa no pavilhão da
Paróquia? Cadê os potentes alto-falantes que distribuíam, pelo serviço de som
da festa, as mais românticas canções de Emilinha Borba, Carlos Galhardo e
Nelson Gonçalves? E os garçons do pavilhão que nos brindavam com a cerveja
Teutônia mais gelada e ainda serviam de estafeta pra levar os nossos
bilhetinhos aos brotinhos de Jaguaribe?
É a verdade! O progresso acabou com a Festa do Rosário
e vai acabar, nestes próximos anos, com a Festa das Neves. Os palanques
eletrônicos e os sons de computador já não deixam vez para Teones Barbosa,
Tabajaras do Ritmo, Ruy Bezerra e Nelie de Almeida cantarem na minha Festa do
Rosário.
E com a Festa que acabou, também vão se acabando as últimas
lembranças daquela cidade mais solidária, bem menor é certo, mas muito mais
conhecida de todos nós.
Ainda bem que a Igreja do Rosário continua lá de pé, firme
como uma rocha e, se a festa acabou, a crença em Nossa Senhora do Rosário
parece cada dia mais forte naqueles habitantes de Jaguaribe, muitos deles que
ainda moram nas velhas casinhas de taipa do bairro que me viu nascer e que me
ensinou a viver. São vivendas modestas, pequenas e desconfortáveis que ainda
resistem mas que, mais dia menos dia, o progresso haverá, também, de
transformar em tristes restos de demolição depositados em possantes caminhões
de entulhos.
E sobre a notícia do jornal, depois verifiquei bem:
tratava-se da Festa do Rosário de Pombal, onde o povo ainda tem a alegria de
comemorar a data da Virgem Santa. Amém.
Esse ano não haverá a parte "profana" da festa. Apenas um tríduo e a missa solene. :/
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